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Um Charco na Planície

Cenas e coisas de um alentejano...

Um Charco na Planície

Cenas e coisas de um alentejano...

26
Abr24

Ainda sobre os 50 anos do 25 de Abril...

PJ Cortes

Muito foi dito sobre a comemoração do "meio século" de vida da Revolução dos Cravos.

Uns apenas reconhecem a existência do 25 de Abril como o exacto momento em que surgiu a realidade política e regime democrático que conhecemos. Outros reconhecem o 25 de Abril como o momento que originou, porque outros se seguiram, a realidade política e regime democrático que vivemos hoje.

Ouvem-se ou lêem-se estas palavras e rapidamente se percebe que são extremos de opinião.

Mas também há casos, bons casos, em que impera o bom-senso e a necessária capacidade crítica para ver o que de facto representa o 25 de Abril. É o caso de Ricardo Pinheiro Alves, Professor universitário, que num artigo para o jornal digital "ECO" diz o que como deve ser visto o 25 de Abril, o que representa e o (mau) uso que lhe dão, palavras com as quais me identifico e concordo.

Deixo a transcrição e link:

A responsabilidade pela festa de Abril não ser comemorada por todos é da esquerda radical promotora do “fascismo”. E esta esquerda radical é o derradeiro obstáculo à concretização do 25 de Abril.

Estamos a comemorar os 50 anos do 25 de Abril. E a propósito da data há um conjunto formado por três verdades insofismáveis que em Portugal continua sem ser consensualmente aceite:

1 - O 25 de abril é um dia que marca a mudança de um regime conservador não democrático para uma democracia liberal em Portugal. O processo não foi imediato, e teve várias fases que foram necessárias ultrapassar para se alcançar a liberdade e a democracia.

Uma dessas fases decisivas foi o 25 de Novembro de 1975, que marcou o fim de um período de vários meses em que sectores radicais tentaram instalar uma ditadura de esquerda. Como referiu o General Ramalho Eanes as duas datas não devem ser vistas em separado e o anúncio da comemoração dos seus 50 anos em 2025 é o modo ideal de completar a que agora se realiza.

Outras fases houve que não devem ser esquecidas – o fim do Conselho da Revolução, o julgamento dos crimes dos terroristas das FP-25, o fim do “caminho para o Socialismo” na Constituição ou uma economia descentralizada de mercado -, mas apesar delas e de divisões à volta de temas como o Ultramar e a forma como foi feita a descolonização, a data simbólica para a liberdade e para a democracia é inquestionavelmente a de 25 de Abril de 1974. Por esse motivo faz todo o sentido que seja feriado nacional (ao contrário de outras datas, como o 5 de Outubro, que representa a divisão da sociedade).

2 -  A segunda verdade insofismável é que o Fascismo é uma ideologia perigosa. Como todas as ideologias não admite contraditório, o que já por si é desadequado para uma sociedade que se quer aberta, plural e livre. Mas esse não é o problema. O problema é subordinar os interesses do povo a um Estado forte e dominador, privilegiando o estilo propagandístico e a acção de um líder carismático sobre o conteúdo programático, e garantindo a sua popularidade e a sua aceitação com a diabolização de inimigos comuns. Felizmente em Portugal ninguém defende a instalação de um regime fascista nem uma transformação da sociedade que siga os preceitos dessa ideologia.

3 - A terceira verdade insofismável é que nunca houve Fascismo em Portugal. Aliás, a pessoa a quem podemos agradecer este facto é, por paradoxal que possa parecer, ao próprio Salazar, que controlou as simpatias fascistas existentes na sociedade portuguesa e representadas por pessoas como Rolão Preto.

Se juntarmos estas três verdades insofismáveis, e se aceitarmos o seu conjunto, facilmente concluímos que não há uma razão objectiva para que o 25 de Abril não seja comemorado como uma verdadeira festa nacional. A intenção revelada pelo actual Presidente do Parlamento, a segunda figura do Estado, de participar no desfile do 25 de Abril confirma este entendimento.

Como uma deputada municipal de Cascais dizia recentemente, o 25 abril é uma festa popular, é alegria, é animação, não é tristeza, e é dessa forma que deve ser comemorado. Mas se assim é, qual a razão para o paradoxo do 25 de Abril não ser uma festa consensual na nossa sociedade e não ser alegremente celebrado por todos os portugueses desde 1974? Porque é que muitos portugueses se limitam a aproveitar o feriado, ignorando ou desvalorizando as comemorações que se realizaram anualmente nos últimos 50 anos?

A resposta a esta questão é que o “fascismo” com letra pequena envenenou o 25 de Abril desde 1974. Enquanto as duas primeiras verdades, a importância da data e a perigosidade da ideologia, são consensuais, a terceira, a de que nunca houve Fascismo em Portugal, é recusada por muitos. E os que o recusam são os mesmos que manipulam o “fascismo” para envenenar o 25 de Abril.

O termo “fascismo” foi continuadamente usado nos últimos 50 anos para acusar pessoas desde o centro à direita do espectro político português. Os objectivos foram claros:

  • Condicionar uma parte da sociedade portuguesa e empurrá-la para um canto, usando uma forma pejorativa para descrever os opositores políticos e tentando limitá-los ao máximo na sua livre capacidade de expressão e de afirmação dos seus valores.
  • Tentar impor a ideia de que “fascismo” é sinónimo único de ditadura, escondendo a realidade e forçando a aceitação de outra ideologia com muitas similitudes com o Fascismo, nomeadamente na sua natureza de base totalitária, antidemocrática e contrária à liberdade: o Socialismo não democrático.

O problema da falta de um espírito comum nacional na «festa de Abril» não está na data nem no Fascismo, mas deve-se apenas ao “fascismo” imposto pelos que a querem manipular para defender os seus interesses. E é em nome desses interesses contrários à liberdade que o próprio 25 de Abril proporcionou que os promotores do “fascismo” se sentem donos das comemorações e só autorizam a participação de quem querem.

Os envenenadores de Abril

E quem é que não aceita a ideia de que nunca houve Fascismo em Portugal? O segundo paradoxo é que esta ideia não é aceite pelos que se dizem defensores da liberdade e tentam, desde 1974, instalar em Portugal uma polícia informal da linguagem e do pensamento, um dos maiores pesadelos dos regimes totalitários.

Ao contrário do que é repetido até à exaustão em escolas, em livros e na comunicação social, o Fascismo não terminou em 1974 porque nunca existiu antes disso. Pelo contrário, o que começou logo a seguir ao 25 de Abril foi o “fascismo”. As declarações de Vasco Gonçalves, primeiro-ministro próximo das ideias ditas “progressistas”, demonstram bem o que foi o “fascismo” nessa altura: «a constituição deve ser progressista, com direitos políticos e com nacionalizações … não deve ser perdido por via eleitoral o que tanto tem custado a ganhar ao povo português».

Como se passou a seguir ao 5 de Outubro de 1910, os autoproclamados “donos” do 25 de Abril apresentaram-se rapidamente e fizeram-no usando para isso o nome do povo: eleições sim, mas com os resultados que nós queremos, que são os do verdadeiro 25 de Abril, pois nós é que sabemos o que é bom para o povo, o povo é ignorante não o sabe.

Por isso o 25 de Abril marcou o início do período de chantagem emocional feito por um determinado sector da sociedade portuguesa em nome do “fascismo” e essa pressão prolongou-se até aos dias de hoje. Uma chantagem assente numa ética de desonestidade e de falta de princípios, uma tentativa permanente de condicionamento, sem olhar a meios e sem olhar à verdade, porque para os seus promotores o que interessa é apenas o poder.

Ao longo dos últimos 50 anos o “fascismo” teve as costas largas para os que mais falaram sobre democracia, mas que tentaram uma e outra vez transformar o país num regime não democrático. O sector da sociedade que verbalizou esta chantagem permanente considerava-se, e ainda se considera, a mentora ideológica de um homem novo que estaria à sua ordem, um repescar da herança de Rousseau e da Revolução Francesa sem a mesma intensidade de terror.

Mas o terror também foi usado pelos promotores do “fascismo”. Otelo e as FP-25 foram a sua dimensão mais sangrenta, que, infelizmente para os portugueses mais jovens, continua a ser escondida. A TVI deu, na semana passada, mais um triste exemplo de apagamento da verdade ao pretender que Otelo não pertenceu às FP-25 porque nunca participou em nenhum atentado.

A verdade é que os resultados das muitas eleições havidas nos últimos 50 anos mostram que os defensores desta manhosa e traiçoeira tentativa de impor um pensamento único nunca foram reconhecidos pelo “povo ignorante” como tendo credibilidade suficiente para governar Portugal (apenas foram cooptados recentemente por oportunismo político). Parece que afinal o povo nunca foi assim tão ignorante.

Hoje, os promotores do “fascismo” que envenena o 25 de Abril estão no PCP, BE, Livre e em parte do PS, nas universidades, em associações ditas “culturais” ou “ambientais”, na comunicação social e espalhados pelo ativismo intolerante que veio substituir a velha luta de classes. Continuam a motivar os seus apoiantes com a mesma música de sempre: o combate “antifascista”, sendo que os “fascistas” deixaram de ser parte do PS (como eram em 1974), do PSD ou do CDS.

Para estes radicais a verdade muda como muda a direcção do vento. E só é verdade o que lhes corre de feição. Enquanto houver “fascismo” haverá sempre lenha para alimentar a fogueira do seu radicalismo. Agora o “fascismo” passou a estar acantonado na nova direita, que a esquerda radical promove para “alimentar” a sua luta.

O que os factos mostram é que há uma quarta verdade insofismável: a responsabilidade pelo facto de a festa de Abril não ser comemorada por todos é da esquerda radical promotora do “fascismo”. E esta esquerda radical é o derradeiro obstáculo à concretização do 25 de Abril.

08
Abr24

Gosto de democracia e igualdade, mas apenas quando me interessa...

PJ Cortes

Viver em Portugal, um estado com um regime democrático, é viver num país onde se promove, entre outros, o direito de igualdade.

Nesse direito de igualdade, e anexo a um direito - o de expressão - constitucionalmente previsto, está incluído o direito a ter e formular uma opinião diferente de outras.

Assistir, seja nas redes sociais ou nos OCS, a pessoas, grupos, políticos/partidos, a colocar em causa essas opiniões ou a querer amordaçar a sua partilha, certamente não corresponde à ideia de democracia/igualdade que estas mesmas pessoas tantos defendem, quando as causas são do seu interesse.

O recurso ao insulto fácil e a desejos de que as vozes incómodas "desapareçam" (não, não é que se escondam, mas sim que morram), não é certamente a forma de se discutirem ideias e, muito menos, de defender os valores que tanto apregoam e usam para desejos pessoais.

Goste-se ou não do homem, procurem e vejam bem as reacções que existem à notícia da publicação de um manifesto por Pedro Passos Coelho. Certas coisas que estão a ser escritas e ditas não o deveriam ser, não da forma como está a ser feito. E isto apenas por alguém que quer expressão a sua opinião/posição relativa a um determinado tema.

Não auguro um bom caminho a continuarmos desta forma... olho para as notícias, para aquilo que se fala no Brasil, e começo a preocupar-me com aquilo que é a ideia de democracia e igualdade para as forças de esquerda. Faz lembrar algo escrito por George Orwell, quando os porcos reformularam os mandamentos na quinta...

03
Abr24

Mudanças no "boneco"

PJ Cortes

Pode parecer coisa pouca ou mesmo desnecessária, mas um simples acto mostra que o prometido é para cumprir.

Claramente me refiro à medida tomada por Luís Montenegro no que concerne à mudança do logotipo a usar nos documentos oficiais e da AP. Recordo-me de o ouvir dizer, em campanha, que se fosse eleito Primeiro-Ministro, um dos primeiros actos a praticar seria o de repor o anterior logotipo. E cumpriu...

Havia necessidade? Possivelmente não. Mas é um acto (simples) que demonstra que a palavra dada deve ser honrada.

Esperemos que continue por este caminho...

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